sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A paz não me fica bem

Preciso de paz. Daquela paz gelada que me faz sentir fora de um mundo que há muito não me pertence. Que me faça sair lentamente de um corpo que já não é o meu.
Já só estou aqui, só porque sim. É como um triângulo que perdeu um dos seus lados e com ele levou o equilíbrio.
Preciso de paz verdadeira. Porque este cansaço constante, esta irritação miudinha, este sentido que já não me faz sentido, esta tentativa de acreditar que tudo tem uma razão para ser, de crer que Deus adapta a nossa cruz à nossa força, já não me aguenta de pé.
Tenho-te, tenho-me e tenho o sonho, falta-me as almofadas nos ombros para que me amenizem o esforço. Para que possa deixar de me sentir em cacos.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Feliz Dia dos Apaixonados :)



"Se o tempo é dinheiro eu vou gastá-lo contigo (...) 
A Lua é de quem souber sonhar"

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Fora de mim


O vazio foi embora, já não existe uma falha que precisa de ser preenchida, acabou e eu não senti nada. 
Nem um pensamento que me faça parar no tempo entre o hoje e o que já lá vai, já nem isso. Sou só eu em mim própria, já não existe pedaços do que já foi tudo, já não existe um único sentimento, já não existe aquele formigueiro nas pálpebras nem o ardor ao redor do meu coração. 

Já não existe nada.
Existe felicidade, ainda não tinha percebido o quanto eu ando feliz.
Ainda não tinha reparado na quantidade de vezes que sorrio num dia. Ainda não tinha reparado que já não choro, por sofrimento, há imenso tempo. Ainda não tinha reparado que estou mais solta. Ainda não tinha reparado na quantidade de ideias e projectos que inventei. Ainda não tinha reparado que cresci. Ainda não tinha reparado que estou feliz.

Foi um processo longo, demorado mas o fruto colhido é a melhor recompensa, porque veio devagar, já se instalou e veio para ficar. Fica para sempre, em mim. 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Fernando Pessoa


Tabacaria

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
( E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa."